O Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (CAPA), fundado em 2016, é o primeiro centro de escrita do Brasil. Foi institucionalizado em 2023 como Programa de Extensão Universitária, com dois projetos vinculados: o projeto de tradução e revisão de textos acadêmicos e o projeto de formação continuada em letramento acadêmico. O centro oferece um espaço para que pesquisadories da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e de outras instituições recebam auxÃlio na escrita e publicação de seus textos. O CAPA conta com uma equipe dedicada à promoção da publicação cientÃfica e à internacionalização da ciência brasileira, por meio do compromisso em promover o diálogo sobre a escrita acadêmica, inspirando-se em writing centers que atuam há décadas em diversas universidades dos Estados Unidos e da América Latina.
O CAPA é um espaço de formação que reconhece ês pesquisadories da universidade como escritories desde o inÃcio. A escrita, uma das atividades mais fundamentais da vida acadêmica, muitas vezes permanece oculta por trás do próprio texto que ela produz. A versão final do texto esconde um longo processo de escrita e reescrita. Nesse contexto, o objetivo de um centro de escrita é trazer esse processo para o primeiro plano e oferecer diversas formas de apoio para que ele seja mais eficaz, tranquilo e menos solitário.Â
Para atingir esse objetivo, o CAPA atua em diversas frentes. Um dos pilares de nossa atuação é a tradução ou revisão de artigos cientÃficos, selecionados por meio de editais de vagas de tradução ou revisão, abertos durante o ano. Outro pilar são as assessorias de escrita, individualizadas, de 50 minutos. Além disso, já produzimos diversos recursos de apoio à escrita, que podem ser acessados pelo nosso site, além de eventos, cursos, workshops e outras iniciativas na área de letramento acadêmico e de formação em lÃnguas.Â
Os writing centers são espaços de apoio, discussão e promoção da escrita acadêmica que surgiram nos Estados Unidos e que hoje fazem parte da maioria das universidades estadunidenses. A história dos writing centers passou por um momento decisivo no final da década de 1960, quando diversos centros foram criados para lidar com o contexto de expansão do sistema universitário do paÃs. No entanto, sua origem remonta aos writing laboratories (ou writing labs), que surgiram por volta dos anos 1920.Â
O sistema universitário estadunidense se desenvolveu de maneira muito diferente do sistema brasileiro, e uma de suas particularidades é a existência de disciplinas obrigatórias de escrita cientÃfica nos primeiros anos das habilitações. Os writing labs surgiram como um método de ensino nessas disciplinas, com a proposta de que todo o trabalho de escrita fosse realizado em sala de aula. Esse processo transformou o que antes era uma disciplina expositiva em uma disciplina prática. Ês estudantes, ao invés de apenas ouvirem instruções, passaram a escrever sob a supervisão de docentes que auxiliavam nas questões que surgiam durante a produção dos textos. Â
Os writing labs passaram a designar um lugar — e não só um método — quando essus docentes perceberam que algumes estudantes precisavam de reforço, já que seus textos não atingiam o nÃvel esperado. Nos writing labs, ês estudantes receberiam uma mentoria particular para sanar suas dúvidas sobre regras gramaticais e caracterÃsticas de um texto acadêmico. Esse método foi utilizado pelo menos até a década de 1950, quando o número de writing labs já começava a diminuir.Â
No entanto, essa história teve uma grande reviravolta no final dos anos 1960 com a adoção das open admissions, responsáveis pela abertura das universidades estadunidenses a um número muito maior de estudantes — e, consequentemente, um número muito maior de problemas relacionados à escrita. O antigo método de ensino já não conseguia atender a entrada de novês estudantes. Os writing labs tiveram que lidar com uma situação completamente nova e foram forçados a repensar seus conceitos e suas práticas, dando origem a perspectivas que norteiam o trabalho dos writing centers até hoje.Â
A grande transformação ocorreu com a adoção do peer tutoring, ou seja, a prática de colocar colegas, e não docentes, como condutories das sessões de assessoria. Ês estudantes passaram a conversar com alguém igual a elus, que não estava preocupade em supervisionar ou orientar seu desenvolvimento, mas sim em construir um conhecimento de forma colaborativa. Os textos dês estudantes não eram mais abordados por alguém que precisava adequá-los ao nÃvel esperado pela disciplina, mas por alguém que entendia as dificuldades que elus enfrentavam ao se debruçarem no processo de escrita. Â
Com o tempo, o trabalho nas assessorias revelou que as dificuldades enfrentadas peles estudantes na escrita eram, na verdade, desafios comuns enfrentados por qualquer escritore acadêmique, e que todes poderiam se beneficiar dessa discussão. Assim, os writing labs deixaram de ser apenas um reforço para disciplinas dos primeiros anos da graduação e se consolidaram como legÃtimos centros de apoio, discussão e promoção da escrita acadêmica. Â
Com isso, as décadas seguintes se tornaram um perÃodo de intensa análise teórica sobre o trabalho dos writing centers como centros legÃtimos e autônomos — uma reflexão que continua acontecendo. Nesse sentido, algumas das perspectivas que surgiram desse processo servem de inspiração para o trabalho dos writing centers até hoje:Â
Para saber mais: a história dos writing centers é retratada em detalhes no texto de Elizabeth Boquet, “Our little secret”: a history of writing centers, pre- to post-open admissions. No entanto, para uma discussão mais teórica sobre o trabalho dos writing centers, o texto de Stephen North, The idea of a writing center, pode ser uma leitura inicial sobre o tema. Â
Como o CAPA surgiu?
O Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (CAPA) foi criado em 2016 pelo Prof. Dr. Ron Martinez, como resultado de uma pesquisa que visava investigar o processo e as demandas relacionadas à publicação cientÃfica na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A pesquisa apresentou alguns resultados:Â
Nesse contexto, ocorre um ciclo vicioso: discentes e docentes não aprendem a escrever artigos cientÃficos adequadamente e, assim, são obrigades a terceirizar as revisões e traduções dos seus textos. Esse investimento financeiro nem sempre resulta em um retorno efetivo em termos de letramento acadêmico da comunidade universitária, tornando necessário um contÃnuo reinvestimento. Â
No CAPA, acreditamos que, como parte dos sistemas globais atuais responsáveis pelas pressões para publicar, a universidade tem a obrigação de proporcionar à comunidade universitária uma formação sólida em letramento acadêmico. Isso permitirá que pesquisadories adquiram autonomia em relação ao processo de escrita acadêmica e, assim, possam auxiliar outros pesquisadories no futuro. Â
Após dialogar com inúmeras instituições internacionais para compreender melhor como elas enfrentavam o desafio da produção acadêmica, o professor Martinez chegou à conclusão de que todas as “soluçõesâ€, como cursos intensivos de escrita, pareciam pontuais e efêmeras. Ficou evidente que a solução mais sustentável e adequada seria um local em que ações pudessem ocorrer de maneira coordenada, envolvendo discentes e docentes ajudando outres colegas: um centro de escrita (writing center). Â
Apesar de terem surgido nos Estados Unidos há mais de meio século, os centros de escrita ainda eram desconhecidos no Brasil. O CAPA iniciou suas atividades na UFPR em outubro de 2016 (matéria sobre lançamento), sendo o primeiro centro criado nos moldes dos writing centers estadunidenses, mas adaptado para atender à s demandas de publicação cientÃfica do Brasil. Â